Vida que segue

Relacionamentos são esquisitos. Durante um tempo (que pode ser muito, pode ser pouco), você trabalha para criar um coisa única, transformar dois em um só.

Compartilhamos momentos, vivemos histórias, criamos lembranças. Aí a coisa acaba. E a gente tem deixar tudo para trás para conseguir continuar indo para frente.

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Os filmes de Christophe Honoré, as músicas de Roberto Carlos, comida italiana com vinho, o moletom do Mickey dos meus 13 anos, o andar de cima da Funhouse, aquele samba do Paulinho, o cheiro do sabonete da adolescência, o melhor livro que eu li na vida.

Esse é um pedacinho da lista das coisas que sinto falta por ter que esconder de mim para continuar andando.

Foto: Esperando virar a touca

Anedota sobre a fidelidade

Um amigo estava atendendo um cliente no trabalho quando o cara começou a contar histórias da vida:

 

Então, eu fui pra aparecida esse final de semana. Fui levar minha namorada e minha sogra para pagarem uma promessa. No meio do caminho, olhei pro pedal do carro, pois senti alguma coisa pesada por ali. Era um tamanco.

Eu, que tenho o rabo preso e a consciência pesada…distrai minha sogra e namorada…e joguei o pé do tamanco pela janela do carro! Ah! eu tenho um fusquinha mto veeeeeelho!

Andamos mais um pouco e resolvemos parar para tomar um café. Na hora de descer a minha sogra começa a gritar: “Meu Deus, meu tamanco sumiu, como é possível?”

 

Quer dizer…

 

Logicamente irracional

Eu não sou uma pessoa muito de fazer concessões. Sei lá, acho meio esquisita a ideia de que você precisa abrir mão do que você acredita/pensa/é por causa de outra pessoa.

E não digo me refiro só aos relacionamentos amorosos (os campeões nas concessões), mas também entre amigos e com a família.

Sempre que a gente abre uma concessão tira um pedacinho daquele relacionamento. Eu explico: ao abrir mão de alguma coisa para agradar o outro, perdemos a oportunidade de aprender a lidar com diferentes opiniões, a aceitar as diferenças, a crescer com as divergências. Ao invés de um dos lados ter a opinião predominante, os dois lados aprendem a se entender.

É seguindo essa lógica irracional que não faço concessões. Você pode achar que sou uma pessoa difícil, mas na verdade só me interesso em aprender.

 

Escrevi isso depois de ler o texto sobre concessões/coerência do Contardo Calligaris

Como ficar só

Eu só faço compras sozinha. Vou ao cinema sem ninguém. Já fui mais de uma vez sozinha para a balada. Fico muito feliz quando todo mundo sai de casa e me deixa só.

Mesmo assim, só sei ficar sozinha quando a escolha é minha.

Aprender a ficar sozinho e respeitar o silêncio é uma arte:

O vídeo é da diretora Andrea Dorfman e o texto é da Tanya Davis. Fiz uma tradução livre (livre mesmo) para quem se interessar. O  texto é gigante, mas é lindo:

HOW TO BE ALONE, by Tanya Davis

Se você está sozinho pela primeira vez, tenha paciência. Se você não ficou só muitas vezes, o se quando ficou não gostou, então espere. Você vai descobrir que é ótimo ficar sozinho quando você aceita essa ideia.

Poderíamos começar com os lugares aceitáveis, o banheiro, a coffee shop, a biblioteca. Onde você pode enrolar e ler o jornal, onde você pode pegar sua dose de café, sentar e ficar por lá. Onde você pode folhear e cheirar os livros. Você não deve falar nesses lugares, então é mais seguro.

Também existe a academia. Se você é tímido, pode ficar nos espelhos, pode colocar o fone de ouvido.

E tem o transporte público, porque todos temos que chegar em algum lugar.

E existem as preces e a meditação. Ninguém vai achar estranho se você estiver segurando a respiração em busca de paz e salvação.

Comece simples, com as coisas que você evitava com medo de ficar sozinho.

O balcão da lanchonete. Onde você estará cercado de funcionários que têm somente uma hora e esposas que trabalham do outro lado da cidade o que faz com que eles – assim como você – fiquem sozinhos.

Resista à tentação de socializar com seu telefone celular.

Quando estiver confortável com esse ritual, convide a si mesmo para um jantar. Em um restaurante com mesa posta. Você não será mais intrigante ao comer sozinho do que quando passa o dedo no chantilly ao provar a sobremesa. Na verdade, algumas pessoas das mesas cheias de gente ficarão com vontade de estar no seu lugar.

Vá ao cinema, onde é escuro e aconchegante. Sozinho em sua cadeira em meio a uma comunidade temporária.

Então, se leve para dançar em uma balada onde ninguém te conheça. Fique fora da pista até que as luzes te convença a entrar. Dance como se ninguém estivesse vendo… porque ele provavelmente não estão! E, se estiverem, suponha que estejam fazendo com a melhor das intenções. O jeito que o corpo se move durante a dança é, no fim das contas, lindo. Dance até o suor lembrá-lo das melhores coisas do mundo.

Vá para o campo sozinho, deixe que as árvores e os esquilos tomem conta de você.

Vá para uma cidade desconhecida, ande pelas ruas. Sempre existem as estátuas para conversar e bancos perfeitos para sentar-se, que dão aos estranhos a sensação de uma existência compartilhada – esses momentos podem ser tão animadores e as conversas que você se envolve ao sentar-se sozinho são únicas.

A sociedade tem medo da solidão, como se corações solitários estivessem jogados no porão, como se as pessoas devessem ter problemas se, depois de um tempo, não estivessem comprometidas com ninguém. Mas a solidão é uma liberdade que respira fácil e levemente e pode ser cicatrizante, basta você querer.

Você poderia aguentar rodeado por uma multidão ou de mãos dadas com seu companheiro. Olhe mais ao longe pela eterna busca de companhia. Mas ninguém estará na sua cabeça e, quando terminar de traduzir seus pensamentos, algo da essência deles pode estar perdido. Ou não.

Talvez com o objetivo de amar a si mesmo, talvez todos aquelas frases cheias de energia que ouvimos da pré-escola ao colegial foram provas para aguentar ficar sozinho. Porque se você está feliz, a solidão é abençoada e estar só é okay.

Está tudo bem se ninguém crer como você. Toda experiência é única, ninguém tem as mesmas sinapses ou consegue pensar como você. Por isso, fique aliviado, mantendo sempre à mão as coisas mágicas da vida.

E isso não significa que você não estará conectado, que a comunidade não estará presente. Apenas seja uma única pessoa em uma única mente e sinta os efeitos disso. Fique em silêncio. Respeite o silêncio.

Você pode estar em meio a uma multidão em um instante se precisar. Se o seu coração está sangrando, aproveite ao máximo. Existe calor no congelamento, seja um testamento.

Randômico

Não sei qual foi o contexto, nem se é que existe um. Mas, no segundo que li essa frase que da @yuikeda, coloquei na minha lista de tweets favoritos.

Até parece injustiça, mas é verdade: a pessoa pode ter sido um bom amigo a vida toda, mas se pisa no seu calo ou se mostra aquele defeito que você abomina na raça humana, a gente perde o respeito. E perder o respeito é perder tudo.

Posso estar sendo radical (ah, jura?), mas acho que não tem muita exceção. Eu sei que a gente dá mancada o dia inteiro: atrasa compromisso, deixa de fazer um favor por pura preguiça, não atende o telefone de propósito, conta uma mentira aqui e outra ali. Mas quando a coisa aperta, fica difícil voltar a acreditar que aquele ainda é o seu amigo de sempre, né?

Ou eu é que sou muito rancorosa?

Coincidências

Um dia cheguei em casa e encontrei uma menina que trabalha comigo no elevador. Ela estava há dois meses na empresa (na mesa em frente à minha) e há alguns anos no prédio. Eu mal fazia ideia.

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Na porta de uma balada X em Buenos Aires durante o verão de 2006 conheci um brasileiro. Que estudava jornalismo na mesma faculdade que eu. Conversamos por um tempinho e nunca mais vi o cara.

Em algum momento de 2008 descobri que o cara desaparecido de Buenos Aires era um amigo meu. Amigo que eu tinha conhecido em 2007. Ou melhor, que tinha reencontrado, só que sem reconhecer.

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Camila era amiga de João. Camila ficou com João. Com o tempo, os dois se afastaram.

Um ou dois anos depois, Camila conheceu Marcelo. Os dois ficaram amigos e, nessas coisas da vida, acabaram ficando também.

Algum tempo depois, Camila reencontrou João (afinal, ainda eram amigos). Ele contou sobre a ex-namorada, a Renata. Estaria tudo ok não fosse Renata também ex de Marcelo.

Aham, os dois namoraram a mesma menina (a Renata) e ficaram com a mesma amiga (a Camila). Não, os dois não se conhecem (e provavelmente jamais irão se conhecer).

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Me espanto e me encanto com essas coincidências que aparecem de tempos em tempos.

O tempo cura tudo

Um dia perguntei para uma amiga sobre um ex dela – que é desses moderninhos que se acham importantes só porque têm mais de 37 pessoas seguindo no twitter:

Eu – Mas e aí, o que ele tá fazendo da vida?

Ela – Não tenho ideia do que este anormal anda fazendo além da merda que ele distribui na internet diariamente.

Desprezo total. Nada como um dia após o outro…

Tragédias cotidianas

Ele se interessou pela força que ela tinha. Gostava da ideia de uma mulher diferente das outras, segura, que sabe o que quer. Mas poucos homens conseguem viver com uma mulher forte demais. Ele sabia que cedo ou tarde ela perceberia que queria mais, que podia mais, que merecia mais.

Ela sempre soube que era forte – e que isso intimidava os outros. Como gostava dele, resolveu interpretar o papel de garota frágil e deixar com ele a palavra final. Na vida real, ela só queria ser ouvida, respeitada, amada. E uma hora ela percebeu que queria mais, que podia mais, que merecia mais.

(esse é o problema das mulheres fortes: ela não conseguem disfarçar por muito tempo)

Eles sempre souberam que tinham pouco em comum, mas fingiam não se importar. A verdade é que todo mundo tem um limite, e o deles havia chegado. Ele queria que ela fosse outro tipo de mulher, ela queria que ele fosse outro tipo de homem.

“Nós nunca vamos dar certo porque somos iguais”

Tão logo ela disse essa frase, sabia que as coisas já tinha acabado.

Foto: PostSecret

Em ordem

Cuidar melhor de mim.

Cuidar melhor das minhas coisas.

Cuidar melhor dos outros.

Maluquice de mulher: a estratégia Datafolha

Eu sempre digo: toda mulher é maluca. Toda, não tem jeito. O que acontece é que algumas escondem a maluquice, enquanto outras não conseguem fingir normalidade.

E a maluquice não é uma coisa que vem com o tempo e com os problemas da vida. A maluquice é nata, até menininhas de 8 anos sofrem disso.

Olha só essa história: a menina, quando tinha uns 13 anos, se passava por pesquisador do Datafolha para conseguir informações sobre os pretendentes. Conta aí:

“Quando eu tava afim de algum menino, o procedimento era os seguinte: pegava o telefone dele (no meu colégio tinha na lista da chamada), ligava na casa falando que era do Datafolha e que estava fazendo uma pesquisa com jovens de X a X anos (pra ser bem a idade do menino).

Aí, falava com o menino sobre gostos e interesses dos jovens, ele respondia o que gostava. Daí, quando eu tivesse oportunidade de estar na mesma conversa que ele, dizia as mesmas coisas. Então, ele pensava que eu era alma gêmea dele.

Isso aos 13 anos. Gênia?”

A minha primeira pergunta foi: “e funcionava?”

E ela:

“SUPERfuncionava. Porque na época o Datafolha era um dos únicos órgãos de pesquisa e as pessoas acreditavam. Meu, minha casa de tarde ficava cheio de amiga e amiga-de-amiga. A gente fazia Datafolha pra alguém todo dia.”

Moral da história: aquela mulher pode até parecer normal, mas é completamente doida por dentro.

(sim, eu me incluo)